O jogo político, inserido no organismo social brasileiro, estruturou nos últimos anos uma perda maciça da crítica emancipadora nos discursos da esquerda, transformando-os numa espécie de “peões” do Capital, ou seja, uma “linha de frente”, composta por seus mais expressivos partidos, e desenvolvendo uma luta contra o neofascismo de maneira superficial, sem se envolver, radicalmente e com uma concreta mobilização das bases pela tomada dos meios de produção e a criação de uma ideologia que retraia, até chegar ao fim, toda manifestação (a menor que seja) dos ideais da burguesia alienadora das massas proletárias.Sobre o Conflito no Oriente Médio
A narrativa é de autonomia, mas a realidade é de tutela
Pelo contrário, essa “esquerda popular”, que se concentra nos diretórios do PT, PDT, PSB, PCdoB, e uma considerável parcela do PSOL, está construindo uma luta cada vez mais “artificial”. Isso se mostra presente quando cogitou-se uma “frente ampla” para derrotar o neofascista Jair Bolsonaro. Essa “pseudo-esquerda”, que ganha o apoio de bilionários e digital influencers, que ganham uma relativa “humanização”, uma tentativa de criar “mitos”, além do que o lulismo e o cirismo podem ofertar. Militantes neoliberais, mas com um discurso progressista, que constituem a tão sonhada “linha de frente”, mas que em nada comungam com a ideia de antagonismo de classes. Esse “movimento de conciliação” com a burguesia, efetuada pela esquerda moderada é proposital. Para Fernandes (2019)1 o movimento de contra-hegemonia dessa esquerda, caracterizada como “moderada”, não visa uma “organização de ruptura” com o status quo vigente. Ela ainda ressalta que essa ruptura “pode até ser desejada pelos moderados, mas não está no horizonte como está para a esquerda radical”2.
Nesse contexto, ocorre muito mais uma necessidade de criar nomes que possam satisfazer tanto as massas de trabalhadores, como também o lumpemproletariado (em sua maioria, representantes das camadas médias da população) e os bilionários, os verdadeiros chefes de Estado, no sistema socioeconômico brasileiro, do que um interesse real de transformação radical e tomada dos meios de produção. Um exemplo tácito dessa ideia é a tentativa contínua do desenvolvimentista Ciro Gomes de chegar ao poder, coparticipando de movimentos “democráticos” de ex-presidenciáveis, antigos apoiadores de Jair Bolsonaro. Vale lembrar que o desenvolvimentismo nada mais é do que um “liberalismo social” (que pouco se difere do neoliberalismo). O Estado continua atuando como intermediário das relações intercapitalistas e, ao mesmo tempo, cria subterfúgios para inserir as organizações sindicais e outros movimentos sociais e idenitários na construção de relações fisiológicas, aparelhadas à exploração da mais-valia.
Não é possível sabermos quem vencerá as eleições de 2022, ao que tudo indica será mais uma “marionete” liberal, pertencente a uma esquerda que se encaixa como centrista, longe de uma crítica mais radical, e que seduz a população. Esta, por sua vez, torna-se uma massa, tal como Freud afirma estar “sujeita ao poder verdadeiramente mágico das palavras”3 quando ouve, por exemplo, uma frase dita por um ex-presidente desta linha de pensamento, uma antropóloga que escreve livros antirracistas, mas que faz inúmeras propagandas para empresas que exploram pessoas negras, um influenciador digital com milhões de inscritos do YouTube, e até mesmo uma bilionária que faz alguns projetos sociais em sua empresa, e se reúne em um apoio motivado apenas pelo inconsciente capitalista, sendo, portanto, “desprovida de crítica”4.
O proletário brasileiro continuará preso às correntes da alienação, ignorância e, sobretudo, da exploração. Esses “peões” do Capital, que parecem resgatar os discursos dos socialistas “crítico-utópicos”, tão criticados no Manifesto5, “não cessam de apelar para toda a sociedade, e de preferência a classe dominante”, compactuam com a mesma burguesia (não existem burgueses “bons” e “maus”, não estamos numa história de ninar) que contribuiu para a catástrofe que estamos vivenciando, agora deseja retornar ao poder e seguir com o movimento de autogestão da centralização do Capital. As perguntas que encerram esse pequeno artigo é: nós (o povo) permitiremos que um peão nos deixe em xeque com a nossa emancipação, retornando o ciclo populista-progressista? Ou seremos cavalos, e nos movimentaremos em “L”, de libertação (aquela verdadeira liberdade, que não nos mantém reféns da “livre-escolha” da burguesia), rumo ao fim da opressão da direita genocida e da esquerda liberal, caminhando para um futuro definitivamente revolucionário?