As novas tecnologias trouxeram diversas mudanças sociais, mudanças que retumbaram nas relações por meio do uso massivo das redes sociais. Foi também a partir das redes que os movimentos sociais se organizaram nas últimas duas décadas, através de um ciberativismo crescente. Faz-se necessário analisar aqui, portanto, como os movimentos sociais se conectam em interesses comuns – como redes de interação informal – a partir do uso das redes sociais; e como tais redes possibilitaram um modo ‘sistêmico’ de organização destes movimentos.Sobre o Conflito no Oriente Médio
A narrativa é de autonomia, mas a realidade é de tutela
No Brasil, deteremos o nosso olhar para o ciberativismo após os movimentos de 2013. Entretanto, nada de novidade nas terras tupiniquins. O “prisma da novidade” cai por terra, por exemplo, ao se analisar como a questão da novidade é um conceito pouco específico. Ao enxergarmos os protestos como um modo de participar ativamente da democracia brasileira também retiramos o estigma de novidade. Redes como PeaceNet e mobilizações de hackerativismo consolidam a afirmação de que o ciberativismo é atuante antes mesmo da popularização da internet.
Ademais, as redes sociais conectam pessoas de interesses variados, de diferentes realidades e experiências. Surge, na última década, como uma “comunicação autônoma”. Diante dessa afirmação, é necessário pensar como as mobilizações pela internet conseguem unir pessoas em um interesse comum (no caso de integração a movimentos sociais específicos) e, ao mesmo tempo, borbulhar as ruas com protestos modulares de interesses distintos. Neste momento, pergunta-se: quais demandas atender? Quais interesses acolher?
O que faz surgir um movimento social é, para além da sua organização, a natureza de uma demanda específica com interesses comuns. A partir da análise dos protestos de 2013, vê-se como a mobilização de protestos – no ceio de uma crise democrática – não destaca a atuação de um único movimento social. Entretanto, com interesses divididos o suficiente, os protestos que compõem o Brasil de 2013 até o ano atual (também chamados de “protestos à direita”) figuram diversas construções de movimentos sociais, que promoveram inclusive estratégias de atuação institucional, como o MBL, por exemplo.
Falo dos protestos de 2013 como um exemplo porque essa agenda de eventos marcou instintivamente a noção analítica dos pesquisadores brasileiros sobre os movimentos sociais e o campo de análises dos protestos. Mas, a direção dos eventos comutou e ainda comuta em uma grande ramificação de interesses. O ciberativismo pós-2010 demonstra, portanto, uma estrutura que facilita a difusão de ações e uma articulação “conectada” de demandas e reivindicações.
Para além, a comunicação digital também influencia na aquisição e gerenciamento de recursos e na construção da própria identidade coletiva dos movimentos sociais. As ações ocorrem através de um processo de ‘compartilhamento em massa’, ou seja, uma difusão que se apropria de interações e frames pessoais, a partir de uma personificação e ‘personalização’ dos interesses divulgados.
Ao mesmo tempo em que temos organizações como o MBL e o movimento estadual Direita Minas, temos um crescimento significativo de mídias alternativas e ativistas no Brasil. Compreender a emergência de movimentos sociais a partir do uso da internet, portanto, também configura compreender as dimensões emocionais, cognitivas, culturais e morais que compõem a política, visto que as emoções coletivas desempenham um papel crucial no engajamento coletivo político.
É claro que o ciberativismo brasileiro possui descontinuidades, tanto em relação à popularização das redes sociais, quanto em relação aos eventos específicos do país. Entretanto, o que busquei retratar aqui não foi as especificidades, mas sim os escopos de uma ciência política voltada às redes de movimentos “conectados”. Por fim, cabe ressaltar: os movimentos sociais, ao utilizarem a internet como uma janela de organização, trouxeram pautas simbólicas para as agendas de interesses, bem como estabeleceram um diálogo horizontal e estratégico com a sociedade civil e com as instituições públicas.