A liberal democracia representativa está em crise. Trata-se de uma crise que pode ser pensada analisando os diferentes atores que a compõem.Sobre o Conflito no Oriente Médio
A narrativa é de autonomia, mas a realidade é de tutela
Desde a década de Oitenta do século passado, no contexto do fim da União Soviética, o estado social está sendo desmontado, os partidos não conseguem desenvolver seu papel tradicional de mediação entre a sociedade civil e as instituições representativas, o sindicato também perdeu seu papel de organizador da classe trabalhadora. O poder judicial se tornou cada vez mais protagonista levando a bandeira da luta contra a corrupção.
Neste cenário, assistimos a fenômenos de personalização da política, associados a forma de populismo, tendencialmente de direita, que ocupam o espaço esvaziado pelos grandes partidos tradicionais com um discurso moralizador-religioso, antipolítico, que promete a resolução dos problemas do “cidadão do bem” mediante o canal da ligação direta entre o líder carismático e as massas.
Diante tudo isso, o fascismo volta com força ao debate. É um fenômeno que mantém, quando não aumenta, seu fascínio sedutor, saindo, em muitas circunstâncias do discurso científico-acadêmico para se tornar uma categoria polêmica da luta ideológico-política, basta pensar no debate sobre o suposto caráter fascista de Trump e do “trumpismo, Bolsonaro e o “bolsonarismo”.
Mas afinal, o que é o fascismo? O fascismo foi um projeto de “modernidade totalitária”. Estado, partido único, terror e ideologia, propaganda, censura, polícia secreta, racismo e, no caso do nazismo, campos de extermínio -, que surgiu no cerne do século XX, para dar uma resposta a um complexo de problemas: a crise do Estado liberal e o fracasso de seu projeto de representação das massas produzidas pela modernidade-modernização; a tragédia da Primeira Guerra Mundial que completa a crise do Estado liberal; uma alternativa ao socialismo e ao comunismo no campo da organização do conflito capital-trabalho, pela composição do qual o fascismo pensa a um Estado-nação orgânico, centralizado e intervencionista.
O fascismo foi tudo isso e muito mais, dado que desenvolveu sua própria específica ideologia, simbólico-mitológica, para mobilizar as massas. Uma ideologia que olha para um passado mitológico, porém, ao mesmo tempo, é plenamente projetada na modernidade do século XX. Não se trata, portanto, de um regime conservador clássico nem de um autoritarismo tradicional, embora tenha alguns pontos em comum com ambos.
O fascismo é profundamente moderno, porque manipula habilmente a informação, usando as tecnologias mais avançadas para a época, com o objetivo de dar sua versão oficial da história às massas fascinadas pela liderança carismática do Duce ou do Führer.
Finalmente, cem anos se passaram desde a “Marcha sobre Roma”. E o fascismo continua a seduzir as massas em busca de uma nova representação diante a crise da liberal democracia.