A eleições gerais de 2022 no Brasil estão se aproximando e, nessa reta final de campanha, faltando apenas uma semana para o fatídico 2 de outubro, já não resta mais dúvidas sobre o posicionamento político que todos aqueles que se encontram no campo progressista e em defesa da democracia devem assumir no futuro pleito: digitar o 13 nas urnas para que vitória de Luiz Inácio Lula da Silva aconteça ainda no primeiro turno, o que diminuirá significativamente as possibilidades de um eventual golpe a ser dado por Jair Messias Bolsonaro e seus asseclas. O compromisso histórico das atuais gerações deve ser assumido nessa direção, do contrário, não haverá mais país para chamarmos de nosso.Sobre o Conflito no Oriente Médio
A narrativa é de autonomia, mas a realidade é de tutela
Olhando atentamente para os últimos quatro anos, o que se constata é que esse período se constituiu como um dos momentos mais sombrios da história política, econômica, cultural e sanitária brasileiras, se não o mais sombrio de todos os períodos já vividos por nós até aqui. Ao menos, desde que nos desvencilhamos do Império e nos tornamos formalmente, entre trancos e barrancos, uma República democrática.
Esse ciclo teve início em junho de 2013, quando a população brasileira assistiu as forças reivindicatórias oriundas dos protestos ocorridos naquele ano serem cooptadas pelo que há de mais torpe, retrógrado e vil em nossa sociedade: o aviltamento, a mesquinhez e a mentalidade reacionária de uma parcela considerável das elites política e econômica dirigentes da vida nacional.
Por vezes, o calor do momento não nos permite refletir com maior propriedade sobre o que acontece ao nosso redor, mas, conforme o tempo foi passando, fomos nos dando conta de que, por detrás de uma pseudocordialidade forjada aos nossos próprios moldes, “o gigante Brasil recém-despertado” havia, na verdade, parido monstros.
Buscando dar uma resposta aos anseios dos manifestantes que ocuparam as ruas das principais cidades brasileiras à época, em 17 de março de 2014, uma conspiração envolvendo juízes, promotores, procuradores e policiais federais, além de jornalistas representantes dos grupos hegemônicos de comunicação no país, foi colocada em marcha com o objetivo velado de criminalizar as principais lideranças dos partidos de esquerda, o que acabou reverberando significativamente na imagem da então presidente Dilma Rousseff, recém-eleita em 26 de outubro daquele ano para cumprir o seu segundo mandato a partir de 2015 e que, a despeito de contar com a aprovação de seu governo na casa dos 57% por parte da população, viu sua popularidade derreter abruptamente nos meses seguintes, em meio à opinião pública.
Os 273 dias que se sucederam entre o fatídico 2 de dezembro de 2015, quando o então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha aceitou uma denúncia por crime de responsabilidade oferecida pelo procurador de justiça aposentado Hélio Bicudo e pelos advogados Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal, e o 31 de agosto de 2016, que resultou na cassação do mandato de Dilma Rousseff após três meses de tramitação do processo iniciado no Senado Federal, foram angustiantes.
Daí por diante, o cenário social brasileiro se tornou desolador. Da ascensão de Michel Temer ao poder e dos retrocessos políticos implementados por ele em sua desastrosa gestão, passando pela prisão injusta e ilegal da principal liderança de oposição com reais chances de vitória em um futuro pleito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrida em 7 de abril de 2018, o que vimos acontecer foi o Brasil descer ladeira abaixo.
Como consequência desse processo, após uma campanha eleitoral viciada, em que boa parte da sociedade havia sido fortemente bombardeada pelo envio massivo de notícias e de informações falsas despejadas nas redes digitais – prática nefasta que acontece até hoje –, em 28 de outubro de 2018 tivemos a confirmação advinda das urnas de que Jair Messias Bolsonaro passaria a ser o 38° presidente do país, revelando-se, algum tempo depois, como o pior e o mais perverso de todos os líderes que já regeram a nação.
Desde a era Temer, nos acostumamos a ler diariamente na imprensa matérias sobre o escasseamento de recursos e os constantes cortes de verbas destinadas à cultura, à educação, à saúde, à ciência e tecnologia, à proteção e à preservação do meio ambiente, entre outras áreas sensíveis, porém estratégicas da agenda brasileira. Instituições recém-criadas em nossa história política, que foram resultado de décadas de mobilização dos grupos minorizados em termos de direitos, como a secretaria dos Direitos Humanos, a de Políticas para as Mulheres e a de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, reunidas no segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff dentro da estrutura organizacional do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, foram simplesmente esvaziadas no que diz respeito à sua importância simbólica e à construção e à manutenção de políticas públicas efetivas para o combate às desigualdades e às mazelas intrínsecas à nossa realidade social – movimento esse que, nas palavras do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, pode ser entendido como o “regresso do colonial e do colonizador”.
Não bastasse tudo isso, em meio a tantas derrotas do campo progressista, fomos duramente surpreendidos em dezembro de 2019 com a triste notícia de que uma nova doença até então de causa desconhecida, responsável pela incidência de uma síndrome respiratória aguda grave nos pacientes internados, havia acometido moradores da cidade chinesa de Wuhan, com potencial de desencadear uma pandemia em escala global. Não demorou muito para que o vírus se multiplicasse e percorresse todo o planeta, até desembarcar no Brasil, quando soubemos do primeiro caso de infecção por aqui, registrado em 26 de fevereiro de 2020, na cidade de São Paulo.
Desde então, a vida como a conhecíamos foi alterada em todas as suas dimensões, culminando no que se convencionou chamar de “o novo normal”. Das pequenas cidades do interior e do litoral aos grandes centros urbanos, fato é que o ritmo do dia a dia se transformou por completo. Os rostos que desfilavam pelas ruas antes expostos, passaram a ser cobertos por máscaras de proteção facial. Frascos de álcool gel para higienizar as mãos se tornaram companhia obrigatória.
As praças, parques e demais espaços de convívio arrefeceram. O comércio considerado não essencial, entre as idas e vindas das decisões governamentais, teve que encerrar suas portas, fazendo com que um contingente significativo de trabalhadores formais e informais se deparasse com a falta de empregos e de quaisquer perspectivas para a solução do impasse, passando, quando muito, a sobreviver com as parcas e inconstantes parcelas do auxílio emergencial pagas pela União.
De um dia para o outro, famílias inteiras se viram enlutadas ao perderem seus parentes, amigos próximos e demais conhecidos. Em meio a esse turbilhão, entre os que se pautam pelos avanços da ciência e os que assumiram uma postura decididamente negacionista frente aos dilemas do contemporâneo, as divergências políticas foram ampliadas, esgarçando ainda mais os laços de convivência e colocando em evidência as fragilidades do já desgastado tecido social brasileiro.
Enquanto tudo isso acontecia, Jair Bolsonaro dava de ombros e ria da cara da sociedade, em tom de deboche. “E daí? Lamento, quer que eu faça o quê?”. “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”. “Lamento profundamente, mas é um número insignificante [de mortes]”. “Eu não sou coveiro”. “O cara que entra na pilha da vacina é um idiota”. “Chega de frescura e mimimi”. Essa pequena amostra de manifestações grotescas serve para ilustrarmos o tamanho da monstruosidade praticada por Jair Messias Bolsonaro, durante um dos momentos mais sensíveis da nossa história sanitária. Por essa razão, é que defendemos a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva ainda no primeiro turno.
Mas apenas eleger um candidato comprometido com os valores democráticos, visando a reconstrução da nação e o realinhamento do Brasil com a geopolítica mundial, por si só, não é o suficiente. Precisamos sim eleger Lula no primeiro turno, mas, com ele, precisamos eleger também candidatos ao legislativo que estejam alinhados e comprometidos com a agenda progressista. Afinal, as disparidades sociorraciais e de gênero nas esferas de poder e a consequente sub-representação social de candidaturas femininas, negras, trans, indígenas e outras, em que pese o aumento de integrantes desses grupos no processo eleitoral de 2022, é uma realidade a ser enfrentada por todos nós.
Por fim, é preciso dizer que, a essa altura do campeonato, excetuando a parcela do eleitorado que segue enfeitiçada pelo canto do sereio, ninguém aguenta mais essa ladainha quase que diária proferida por Jair Messias Bolsonaro, que não nos leva a lugar algum, a não ser para o fundo do poço. É por essas e outras que a eleição presidencial desse ano precisa ser decidida o quanto antes, para que tenhamos alguma paz e para que possamos iniciar o processo de reconstrução do país. Faltando exatos sete dias para o primeiro turno das eleições, esse é o posicionamento político adotado por Judas e seus membros.